José Eduardo Porcher


FILOSOFIA E RELIGIÃO
A atenção cuidadosa às tradições como as religiões afro-brasileiras enfatiza a importância de recorrer a fontes negligenciadas, como narrativas míticas e etnografias, bem como reconhecer a importância da cultura material nos processos cognitivos e defender a adoção de um paradigma incorporado para facilitar o desenvolvimento de uma filosofia da prática religiosa. Pretendo exemplificar esta abordagem explorando fenómenos que têm sido amplamente negligenciados nas discussões filosóficas sobre religião, como o sacrifício e a possessão de espíritos, empregando modos densos de descrição e abraçando métodos interdisciplinares informados pela antropologia cultural e pela ciência cognitiva. Ao fazê-lo, podemos promover uma filosofia da religião crítica global, capaz de abordar fenómenos que são frequentemente ignorados pela filosofia da religião dominante. Dei um primeiro passo nessa direção em ‘As Religiões Afro-Brasileiras e as Perspectivas para uma Filosofia da Prática Religiosa' (2023) e, mais recentemente, em 'As narrativas míticas do candomblé nagô e o que elas implicam sobre seu ser supremo' (próximo). Agora estou preparando um manuscrito para a Cambridge University Press intitulado provisoriamente Religiões Afro-Brasileiras e Metodologia Filosófica, no qual abordarei também outros tópicos, como a importância da cultura material para as concepções afro-brasileiras de si mesmo e de agência.
FILOSOFIA E PSICOPATOLOGIA
Tenho me interessado pelo estudo das doenças mentais desde a adolescência e isso foi levado à minha pesquisa profissional. O foco principal do meu trabalho tem sido a psicose, especialmente os delírios e, ultimamente, a audição de vozes (ou alucinações verbais auditivas). Acabei de terminar um artigo sobre injustiças epistêmicas perpetradas contra ouvintes religiosos (a ser publicado em Filosofia, Psiquiatria e Psicologia), emeu último artigo sobre o assunto tratou do fenômeno da dupla escrituração contábil, que se refere à capacidade dos pacientes de separar seu mundo delirante do mundo cotidiano socialmente compartilhado. Também fui convidado a escrever o capítulo sobre contabilidade dupla para o próximo Routledge Handbook of the Philosophy of Delusion, que deverá ser lançado ainda este ano. No meu doutorado e nas minhas duas primeiras bolsas de pós-doutorado, explorei questões sobre o status psicológico doxástico e popular do delírio, que são resumidas em ‘O status doxástico da ilusão e os limites da psicologia popular.’