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REALIDADES ESPIRITUAIS, RELACIONALIDADE E FLORESCIMENTO: CONTRIBUIÇÕES BRASILEIRAS À FILOSOFIA DA RELIGIÃO (2025-2027)

Como as tradições religiosas brasileiras podem reformular os principais debates da filosofia da religião? Este projeto aborda filosoficamente o candomblé, a umbanda e o espiritismo, demonstrando como eles desafiam os modelos dominantes de realidade espiritual, significado e prosperidade humana. Em vez de se concentrarem na crença, essas tradições enfatizam a prática, a relacionalidade e o envolvimento incorporado com o mundo espiritual. Ao integrar suas estruturas conceituais à filosofia da religião, o projeto expande seu escopo metodológico e reorienta as discussões para a experiência religiosa vivida.

Os principais resultados incluem seis publicações individuais ou em coautoria do pesquisador principal (José Eduardo Porcher), duas do co-investigador (Marciano Adilio Spica) e pelo menos cinco de acadêmicos colaboradores em uma edição especial editada pelos líderes do projeto. Publicações adicionais incluirão um simpósio sobre o livro Afro-Brazilian Religions e o volume coeditado The Other Philosophies of Religion (Bloomsbury), ampliando as conversas globais na área. O envolvimento público contará com workshops em universidades brasileiras e um evento de encerramento no Congresso da Associação Brasileira de Filosofia da Religião. Ao destacar as perspectivas brasileiras, este projeto oferece novas maneiras de compreender como as relações espirituais moldam o conhecimento, a identidade e a vida ética, contribuindo para o desenvolvimento global da filosofia da religião.

OBJETIVOS DO PROJETO

Este projeto busca integrar as religiões brasileiras — especialmente as tradições interconectadas do candomblé, da umbanda e do espiritismo — aos debates centrais da filosofia da religião. Embora esforços recentes tenham trabalhado para globalizar o campo, as tradições latino-americanas continuam desproporcionalmente sub-representadas nessas discussões. No entanto, envolver-se com essas tradições não é simplesmente uma questão de inclusão, mas de expandir as fronteiras conceituais e metodológicas da própria filosofia da religião. Essas tradições desafiam as suposições dominantes sobre a agência divina, a natureza da realidade espiritual, o significado e o florescimento humano, exigindo novas abordagens que vão além das estruturas teológicas clássicas.

Uma das principais contribuições deste projeto é uma reconceptualização da realidade espiritual que explica como as tradições brasileiras resistem às categorias metafísicas clássicas. Em muitas dessas tradições, a divindade não é uma essência, mas uma presença emergente e relacional. A agência divina não é puramente transcendente nem redutível a funções sociais imanentes — ela é relacional, dinâmica e incorporada em contextos rituais específicos. Ao contrário dos modelos teístas clássicos que tratam a agência divina como fixa, independente e universalmente operativa, o candomblé, a umbanda e o espiritismo conceituam os seres espirituais como entidades situadas que interagem com os praticantes de maneiras que não são totalmente independentes nem totalmente antropocêntricas.

Assim, nosso projeto se baseia na ideia da entitologia como uma alternativa à teologia para dar conta dos seres divinos não em termos de essência, mas em termos de presença relacional e eficácia contextual. A distinção teológica padrão entre ontologia (o que um ser é) e função (o que um ser faz) não se aplica às tradições brasileiras, onde as entidades são constituídas por meio de seus papéis rituais e relações. Essa mudança tem implicações importantes para a metafísica da agência divina: por exemplo, se as divindades e os espíritos emergem por meio de compromissos rituais específicos, então sua agência não é totalmente autônoma nem meramente uma projeção da cultura humana — ela é promulgada por meio de práticas incorporadas e interações intersubjetivas. As implicações vão além das tradições brasileiras: se a presença divina é relacional em vez de essencial, isso desafia as suposições teológicas dominantes sobre a simplicidade, a necessidade e a imutabilidade divinas.

 

Para além da metafísica, o projeto também propõe um modelo alternativo de propósito e significado humano. Grande parte da filosofia ocidental da religião pressupõe que o significado deriva de um plano divino abrangente ou de uma ordem moral transcendente. Em contraste, as tradições brasileiras enfatizam o significado como emergente de práticas espirituais relacionais e comunitárias. O espiritismo, por exemplo, concebe o progresso moral como um processo aberto ao longo de múltiplas encarnações, em vez de um objetivo singular. Isso desafia as visões filosóficas tradicionais de responsabilidade moral e persistência da identidade: se a individualidade é distribuída ao longo de várias vidas e moldada pela evolução espiritual, então os critérios padrão para a identidade pessoal podem não se aplicar totalmente. Da mesma forma, o modelo de individualidade do candomblé é profundamente comunitário e dinâmico: os indivíduos não nascem com identidades fixas, mas são moldados por rituais, iniciação espiritual e relacionamentos contínuos com os orixás.

As implicações para o florescimento e o bem-estar são igualmente significativas. Os modelos ocidentais de bem-estar, particularmente aqueles influenciados pelo eudemonismo, tendem a priorizar a perfeição moral individual ou a autorrealização. As tradições brasileiras sugerem uma alternativa: o florescimento não se trata de alcançar um estado fixo de virtude, mas de manter o equilíbrio dentro de uma rede de relações espirituais e sociais. No candomblé, o bem-estar é alcançado não através da adesão a princípios morais abstratos, mas através do alinhamento ritual com o próprio orixá, do cultivo da profundidade espiritual e da navegação por uma cosmologia dinâmica e hierárquica. A cura também não é entendida apenas como a restauração de um estado anterior de saúde, mas como um processo transformador que reconfigura o lugar do indivíduo na ordem cósmica e social. Em vez de enquadrar o florescimento como realização individual, essas tradições oferecem um modelo em que o bem-estar é inseparável da sintonia espiritual e comunitária.

Ao abordar esses temas, este projeto contribuirá diretamente para o GPR-2. As tradições brasileiras não fornecem simplesmente novos exemplos para se encaixar nas estruturas existentes da filosofia da religião; elas desafiam as premissas do campo e abrem novas linhas de investigação. Levar essas tradições a sério significa reconsiderar categorias fundamentais — o que conta como agência divina, o que dá sentido à vida e como conceituamos a boa vida — não apenas como questões filosóficas abstratas, mas também como questões enraizadas na prática e na experiência vividas.

LÍDERES

COLABORADORES

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